terça-feira, 19 de agosto de 2008

Pessoas

Deitou-se, deu um longo suspiro, apertou os olhos. Pensou uma, duas, três vezes antes de começar a falar.
- Não sei bem por que estou fazendo isso...
- No começo ninguém sabe.
- É, talvez ninguém saiba.
- Pode começar...
- Começar, começar... tudo bem então.
Hoje de manhã eu estava andando pela rua, andava e observava todas as pessoas que passavam. Acredite, eu sondava cada detalhe. As pessoas me parecem tão mortas. Pode ser loucura, mas as pessoas a minha volta estavam mortas, todas mortas. Eram todas movidas por trabalho e café, umas duas ou três esbarraram em mim e sequer me olharam. Mortas, estão todas mortas. Era a única coisa que vinha a minha mente. Andavam aleatoriamente, sem sentir, sem pensar. Apenas executando o que a rotina os mandava. Aquilo era assustador...
- Mas, se elas andavam, respiravam, por que estariam mortas?
- Essas pessoas... talvez seja elogio meu chamá-las de pessoas, elas não tinham sequer um brilho no olhar. Eram todas perdidas, todas malditas. Esbarravam em mim e sequer falavam, não olhavam para quem estava a seu lado, era assustador, muito assustador.
- Você percebe que não está falando nada concreto?
- Percebo, porque para aqueles que estão mortos, o concreto é abstrato e o abstrato só se encontra no infinito, como duas retas paralelas.
- Por que elas estão mortas?
- Tudo bem, vou tentar explicar, mas por favor preste atenção - respirou fundo, talvez mais fundo do que jamais tenha respirado- nós nascemos, vivemos, morremos. Esta é a ordem na natural das coisas e é assim que elas acontecem. Tudo o que é vivo, tem de morrer. Mas está acontecendo algo diferente. As pessoas nascem, pouco vivem e já morrem. Algumas ainda conseguem viver novamente, mas a maioria simplesmente morre.
Quando você é criança, você vive. Livre de hipocrisias, falsidades, rancores, você consegue simplesmente viver. A rotina ainda não o algemou completamente, sorrir é tão fácil e tão delicioso. Os doces são mais doces, e o sol é mais quente. Você vive, simplesmente vive. Mesmo se você é uma criança bobona, ou talvez excluída, mesmo assim, você ainda consegue enxergar as estrelas no céu escuro, você ainda tem aquela esperança de que haverão presentes debaixo da árvore de Natal.
Mas então os anos vão passando, e de repente a adolescência te atinge em cheio. Você não sabe ao certo como agir. Se você ri muito, dizem-no crianção. Se você é sério, dizem-no adulto antes do tempo. Se você antes era excluído, agora o será em dobro. De repente nenhuma das suas piadas fazem rir e ninguém quer mais ouvir as suas bobagens. É muito fácil achar que a vida é uma merda, afinal é nesse ponto que começaremos a perder esperanças pela vida que virá. E ninguém ajuda, seus pais estão ocupados demais com o trabalho, seus amigos ocupados demais com a vida perfeita deles, e você fica lá. É nesse momento em que a morte começa a nos pegar, puxando pouco a pouco o frágil fio da vida. Você não se importa, deixa-se levar.
Chega então o dia em que você começa a viver novamente. Mas você não vive a sua vida, e sim a de uma pessoa recém-chegada a ela. Sim, aí você conhece o amor. E é tão incrível, tão delicioso. De repente você descobre que com o seu corpo você pode ser feliz e fazer o seu amor feliz. A vida parece tão incrível e você se sente arrependido de ter deixando a morte começar a puxar seu fio.
É exatamente quando o seu lindo amor acaba, talvez nem fosse amor, talvez fosse apenas uma necessidade de se estar junto unicamente para não ficar sozinho.
Nesse momento você entra em profunda negação. Afinal, você estava dependente daquela vida. Ela lhe era necessária.
Passam-se os anos e você continua oscilando entre a vida e a morte, claro que cada vez mais fraco.
É quando você morre. E se torna uma das pessoas assustadoras da rua.
Você anda, respira, fala. Mas você não vive. Você usa agora uma máscara chamada hipocrisia, segue apenas as suas necessidades fisiológicas e executa o que sua rotina te manda. Você está tão imerso em mundo só seu que deixa de pertencer a este. É assim que a morte vem, assim ela triunfa sobre esse tão chamado bem precioso. O pior é que não é algo perceptível, você morreu e sequer notou. Você perdeu o brilho no olhar, seus sonhos, suas metas. Isso não é morrer? Para que viver afinal? Para quê caminhar sem ter um destino?
É assim que morremos e sequer notamos.
Fechou os olhos, para então acordar de um sonho e depois acordar deste sonho. Para perceber então que também estava morta.
E foi aí que começou a viver.

3 comentários:

Raphael Piltz disse...

Estou de pé aplaudindo!!!
PARABENS!!!
Gostaria de fazer um comentário que complementa-se mas ficaria totalmente desnecessário.

Tsumi disse...

Nascer, viver e morrer. Uma órdem lógica, uma pena que a vida não é lógica, é uma incógnita. Se o mundo fosse lógico então a matemática explicaria tudo, talvez muita gente deixaria de ter tanta dor de cabeça e os matemáticos deixariam de ser seres desconhecidos em que cuja cabeça se passam idéias mirabolantes que à penas outros seres de igual cabeça fazem sentido. Vivemos realmente ditados pela rotina, não se há dúvida quanto a isso, presos a essa realidade que nos cerca e nos prende a grilhões mais grossos que os uma vez seguraram Sansão e mais grossos ainda que os que prendem plataformas de petróleo de alto mar ao fundo do oceâno. Talvez nem mesmo tenhamos a oportunidade de perceber o sentindo real de nossas vidas, talvez apenas porque não exista um. Sentido real só nós mesmos o criamos e não percebemos-o, deixamo-nos ser ditados por nossas nescessidades de sobrevivência e nos esquecemos que a vida existe para ser vivenciada e não apenas para ser vivida. Deixamos passa-la, nos esquecendo que somos animais "racionais", como gostamos de nos chamar, para apenas vê-la passar, sem dar sentido algum a nossas inteligências outra que ultiliza-la para termos uma cama ao cair da noite, dinheiro para comprar comida e um pouco de cerveja para esquecermos que a vida não é feliz.

Raphael Piltz disse...

Pergunta:
"Ah, posso dar ctrl+c ctr+v para o meu blog?"
Resposta:
Sim ^^ e mais vc estara na minha lista!!!