domingo, 9 de agosto de 2009

6 horas

Faltam seis horas para o domingo acabar. Seis horas que irão e trarão mais uma segunda, que trará mais uma semana que por sua vez trará mais e mais coisas. Meus braços doem, tendinite* a vista, meu pescoço e meu ombro incomodam. Estou agoniada, agoniada pelas coisas que deixei de estudar e por todas aquelas que deixarei. Agoniada por não ter feito nada divertido, agoniada por meu peixinho betta que está triste e descolorido, além de estar levemente inchado. Agoniada pelo meu pai que não quis ir comer comida chinesa por estar triste. Agoniada por mim mesma e pela saudade que sinto 'daquela' semana em que o tempo passou tão devagar em alguns momentos, fazendo-os perfeitos, e voltou a correr em velocidade enorme.
Pensando em como eu posso ser tão egoísta e as vezes tão sem amor para com os outros, pensando nas pessoas que sentem tanto a minha falta e eu... passo o dia sem pensar nelas. Pensando naquela menina que encaro todos os dias no espelho, com olheiras cada vez mais acentuadas, o cabelo em tons alaranjados que só um mago da tintura, mais e mais gorda ao passar dos dias (dança do ventre? ha! dança da pança meus senhores). Aquela menina estranha. Que estremece quando se lembra de coisas que gostaria de esquecer, assustando as pessoas ao redor. Aquela que fala e fala, e diverte-se em fazer os outros darem gargalhadas. Gosta de animar aquela aula chata e fazer todos rirem mais. Mesmo sabendo que no fundo eles acham-na deveras estranha e com tons de sociopata. Aquela menina que se sente desolada por ninguém querer manter conversas mais profundas com ela, dando a impressão que esta só serve para fazer rir e não para ajudar. Aí dá vontade de parar de falar. Calar a boca mesmo, pois quando ela se anima começa a falar e não pára. Não pára e acaba falando coisas que não devia, coisas dela. E então se sente vazia, e vai para casa pensando em não mais voltar para lá, querendo mudar de colégio novamente para poder matutar sozinha seus pensamentos e rir com eles quando esses são alegres. Mas não dá, afinal este é o último ano do Ensino Médio. Próximo ano ela tem que ir para a faculdade, ganhar um diploma e ser alguém na vida. Ir para lá e fingir que está tudo bem, que ela está preparada e é madura o bastante. Quando na verdade ela gostaria de se esquecer e estudar coisas mais profundas do que as assíntotas de uma parábola ou que duas retas não se encontram, ou se encontram visualmente no infinito. Ela quer estudar artes e conhecer cada estilo de pintura, deliciar-se com a boa música e entendê-la em todos os seus acordes, absorver tudo que o mundo pode lhe dar, pegá-lo com uma mão só e transformá-lo em parte de seu corpo. Quer viver intensamente, tão intensamente que não se importaria de ir embora um pouco mais cedo, desde que fosse no momento certo.
Deve ser por isso que ela quer biologia. Assim ela poderá estudar desde o grão mais simples até a química cerebral mais complicada e desafiadora, que por um acaso é a área em que ela pretende atuar. Mas a melhor parte de todas é que quando tudo estiver cinza e cansativo, tudo poderá ser jogado e poderá ser trocado pelo estudo dos animais, por um lugar junto ao IBAMA para proteger os bichinhos que matamos todos os dias. E ainda sim se ela cansar desses bichinhos, poderá estudar as plantas, criar a partir de cruzamentos novas e coloridas variedades. E mesmo se nada disso a satisfizer, poderá ser professora e ensinar algo mais além do óbvio. Ser como os seus professores/ídolos e ensinar não só que o cálcio participa da formação dos ossos e dentes na forma de carbonato ou que se um casal de olhos azuis tiver filhos, estes terão obrigatoriamente olhos azuis.
Ensinar que existem provas mais difíceis do que um vestibular e que para essas não existe nota, ensinar que vale a pena esperar pelo beijo perfeito de alguém amado, que vale a pena abraçar o seu pai quando ele menos espera, pois quando você menos esperar ele terá ido embora. Vale a pena sentar no colo da sua mãe porque nenhum outro colo jamais será tão acolhedor, tão bom de deitar. Vale a pena cultivar boas amizades, cuidar daqueles que as vezes mesmo sem falar nos pedem ajuda. Ensinar que existem coisas além de boas roupas e a balada perfeita, existe o mar. Aproveitar para dizer que precisamos cuidar do nosso mundo senão não teremos mais nada. Dizer assim, só de passagem, que talvez o melhor orgasmo seja aquele onde os dois se amam e não aquele onde os dois estão apenas com um tesão de doer os ossos, dizer enfim que tudo, tudo na vida passa. Mas as palavras de ódio e rancor que jogamos ao vento ficam e reveberam na mente das pessoas que magoamos. Dizer mais baixinho ainda que para cada coração quebrado há um preço a ser pago... e não são todos que podem pagá-lo com uma simples taxa.
Talvez ela não seja a maior e melhor, mas tudo o que ela quer é ser algo ou alguém. Ser aquele alguém para uma pessoa. Sim, ser aquela pessoa que alegra e que desperta o melhor sentimento do mundo, cuidar de quem precisa e abraçar quem menos espera. Ela quer poder andar descalça na areia da praia saboreando o vento em seus cabelos, catar conchinhas e brincar de fazer figuras na areia. Acordar sem se importar tanto com a imagem refletida no espelho, deixar-se despentear.
Talvez ser poeta seja um destino. Mas jamais escreveria versos tão bonitos como 'Ternura' de Vinícius de Moraes, nada tão cativador como 'eu te peço perdão por te amar de repente/ embora meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos' ou dizer que 'aqueles que mais sabem, mais sofrem com a realidade fatal' como Byron dizia. E é verdade, o saber traz a dor de conhecer o desconhecido para muitos e não poder fazer nada sobre isso, nada além de tentar advertir sobre os males que estão na próxima curva.
Mas a verdade mesmo... aquela verdade oculta para o mundo... ela gostaria de ter nascido em uma época menos futil, menos sem conteúdo. Quem dera ter nascido a tempo para curtir o Woodstock, poder cantar as músicas da época, poder dizer que esteve lá e dizer que os 70s foram uma época mais simples e mais intensa.
Talvez eu nem lembre como comecei o post, mas eu precisava tirar algumas palavras de mim. Jogá-las ao vento e ver o que acontece, digitar e digitar sem pensar se estou seguindo a nova reforma ortográfica ou se estou fazendo um texto coeso. Eu tinha escrito tudo isso uma vez antes de fechar a página acidentalmente. Em outros tempos teria desistido, mas não hoje, eu tive que escrever tudo isso, tentar, agir e acima de tudo arriscar.
E que venha a segunda.
* É assim que escreve?
Música que toca na minha cabeça quando menos espero